A menina que sorri com os olhos
Descobri que estava grávida dias antes do Dia dos Pais, em 2015. Foi uma gravidez tranquila até descobrir, em uma ecografia, que minha filha tinha duas más-formações: uma no coração e outra no intestino. E, somado à minha idade, uma grande suspeita de ter Síndrome de Down.
Procurei, na medida do possível, ficar tranquila e não apavorar meus outros dois filhos. Maria Alice foi muito desejada por todos. Eu estava pronta pra receber minha filha do jeito que Deus a mandasse pra mim.
E, numa manhã de domingo, após uma queda na casa dos meus pais e fraturar meu pé direito, as contrações começaram e entrei em trabalho de parto. Era domingo de Páscoa. Iniciamos o corre-corre atrás dos médicos que precisavam fazer parte da equipe durante a cesárea: além da obstetra, o cardiologista e uma cirurgiã pediátrica.
No centro cirúrgico, com o pé quebrado, eu e a médica fizemos uma oração para acalmar e agradecer. E minha princesa nasceu. Eu a vi rapidinho e logo ela foi pra UTI. Eu tive que ir embora de coração partido, mas sabia que estavam cuidando dela pra mim.
Vovós e vovôs tinham que se paramentar para ver Maria Alice uma vez por semana no hospital. Os irmãos também. Tentávamos fazer de tudo para transformar aqueles momentos angustiantes de luta pela vida em um momento de festa para os irmãos. E o tempo foi passando… Tentávamos fazer com que a Maria ganhasse peso para fazer a cirurgia do coração. E eu sofria no banco de leite. Como ter leite com tamanho stress?
Em julho, não deu mais para esperar e fomos de UTI aérea para São Paulo.
O coração de minha filha pedia socorro. Ao todo, foram 124 dias no hospital. Quando ela saiu, comemoramos. Hoje, ela é a alegria da casa.
Em abril, completou quatro anos. Este ano, a comemoração foi em casa por conta do coronavírus. Maria Alice faz parte do grupo de risco por ter a imunidade baixa e insuficiência cardíaca acentuada. Mas tudo bem. O importante é agradecer.
Agradecer o convívio diário com essa princesa que Deus me deu pra cuidar, que faz meus dias mais felizes, que me ensina diariamente a desacelerar e a curtir o momento presente. Que fez nossa família aprender que ser diferente é normal. Essa menina que sorri com os olhos.
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