Um conto sobre ela

Foto: Arquivo pessoal

*Tainá Falcão

Dizem que é após os 30 que as transformações se evidenciam na mulher. Num belo dia, entrei em casa e lá estavam elas, sentadas no meu sofá, como tias-avós, num chá da tarde, discutindo abertamente os rumos da minha vida. A ansiedade, a angústia e a realização tentavam chegar a um acordo gentil. Interrompi para lhes avisar sobre uma descoberta grandiosa. Atrás de mim, escondia o desejo, a vontade e o sonho – um menino levado.

Eu e meu sonho temos passado muito tempo juntos.

Conversamos muito sobre as fases boas e difíceis. De vez em quando, encontramos os “estáticos” pela rua. Eles andam em círculo, contam sempre as mesmas histórias, sobre as mesmas pessoas e tem sempre um conselho infalível de como não ser exatamente como se é.

Até cheguei a lhes dar ouvidos um tempo atrás. Hoje, com meu sonho ao lado, passo longe. Eu nasci num ambiente de amor e liberdade, com pais amáveis. Foi daí que surgiu a mulher que sou hoje, afeita as possibilidades, com sede de viver e – melhor descobrir.

A vida adulta nos endurece um pouco.

De repente, surgem as regras, os códigos, o julgamento, o sorriso sem brilho. O que você quer aparentar? A mensagem que você quer passar? Cuidado com o dresscode. Seja simpática! Ah, não muito simpática. Melhor séria, demonstra credibilidade. Esteja bonita. Não muito bonita, hein. Agora é pra ser cool, topa? Rs. Não.

Eu gosto mesmo é de sentir. Serve? Acho que sentimento anda meio fora de moda. Mas nunca gostei de tendências mesmo. Bonita, ou inteligente? Escolhe. Só me faltava querer ser tudo. Eu sou tudo. Desculpe-me. Se não querem me ver inteira, não me verão metade. Nunca saberei sê-la.

Fiz teatro duas vezes. Nunca me apresentei – exceto criança, quando interpretei uma advogada muda. Gostava dos exercícios, da parte divertida do negócio, do protagonismo na vida real. “Ah, mas assim você vai parecer soberba”. Nunca entendi esse medo de parecer alguma coisa. A pessoa é o que se é e ponto acabou.

Sou borboleta – como diz a carta do tarô. Não me ofereçam mais o casulo. Eu já estive lá. É pequeno para minhas asas. Convidem-me para voar. Aí, sim. Eu vou de bom grado. Em breve. Prometo! Eu e meu sonho. De novo.


*@tainafalcao é jornalista de sangue nordestino, alma brasiliense e coração paulistano. Autora do blog marialindamaria.com e do perfil @contosdemarialinda.

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