Meu pai me enviou um presente
Sempre acreditei que meu pai não era desse mundo, suas qualidades eram tantas que suprimiam os defeitos a ponto de alguns eu nem enxergar como defeito. Tive um pai muito especial, tão especial que até no momento da sua morte foi ímpar e de muitos ensinamentos. Digo aos íntimos que meu pai não morreu, voltou pra casa, porque foi exatamente isso que ele disse a última vez que o vi com vida. E disse sorrindo. Bem coisa do meu pai.
E como ele era especial demais me presenteou com um substituto. Costumo dizer que aquele a quem hoje tenho a figura paterna mais viva em mim foi sim, um presente que meu pai me enviou.
Aproveito para falar então desse meu novo pai, painho para os mais chegados.
Um certo dia, sabe lá Deus porquê, achei que ele seria a pessoa certa para me ouvir, sentei em frente a esse homem e despi alma e coração. Ele me olhou, a princípio enigmático, freudiano eu diria, a fumaça densa do seu cachimbo criava uma nuvem quase fantasmagórica ao seu redor. Desde então, semana após semana, eu me sento diante dele e me descubro, me reconheço e me curo.
Sem me responder a nenhum dos meus questionamentos, exatamente como meu pai biológico fazia, ele me conduz de forma que eu encontre a resposta, que eu sinta o que faz sentido. Mesmo quando desnudo meu lado negro, ele me olha sorrindo, acolhe e, sobretudo, me ensina a não julgar, que devemos andar sempre no caminho do bem e do amor, me ensina sobre o amor Crístico.
Outro dia pedi: “Me ensina a usar o cachimbo?” E lá ficamos, eu e ele, o cachimbo, histórias, sorrisos, amor, fé e muito choro, o cachimbo nem sei se aprendi a usar, era só um pretexto para uma tarde para estreitar laços e matar saudades. Foi dia de ressignificar até pontos mal resolvidos com meu pai biológico. O que passamos nessa tarde tatuei na alma.
Painho, você me ajudou a encontrar dentro de mim as ferramentas para me curar.
Fez tanto sentido sentir tudo isso que só agora entendi o verdadeiro sentido de gratidão. O Universo sempre me deixando mal acostumada, e dessa vez me presenteou com um pai mesmo quando o meu já tinha voltado pra casa.
