Ode à alegria

Ana Clara Rocha no Blog Vida de Adulto
Crédito: Isabela Casellato

*Ana Clara Rocha

Cansei de escrever sobre desgraças. Relendo meus textos, quase fiquei preocupada. Se não fui feita de tragédias, porque elas são as únicas em meus registros?

Vinícius de Moraes disse que “para fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza, senão, não se faz um samba, não”. E se o mestre falou, quem sou eu na fila do pão pra discordar?

Mas a questão não é essa. Ninguém sofre por sofrer, não se toca na ferida apenas para vê-la sangrar. Como Vinícius explicou, escreve-se sobre a dor, porque toda tristeza tem a esperança de um dia não ser mais triste, não. A gente toca na ferida para estancar o sangue.

Christopher McCandless escreveu que a felicidade só é real se compartilhada. Acho que o mesmo se aplica à tristeza. A dor reafirma a vida. Sua expressão é quase que como uma validação, para si e para os outros, de que aquilo não é coisa inventada; é coisa doída e derruba até o mais bruto dos homens.

Fato é que a tristeza pode até ocupar o papel de protagonista em alguns momentos, mas apenas para abrir alas para a verdadeira estrela brilhar: a alegria.

Já pensou em como a alegria é potente? Ela permanece em nossa pele como aquele bronzeado de sol adquirido num dia de viagem, há meses. Dois dias de alegria, chamados de final de semana, nos motivam a trabalhar cinco dias seguidos. Trinta dias de férias são suficientes para recuperar a energia gasta nos 335 dias anteriores, e recarregar a bateria para os próximos.

Ela é tão potente, que chega a ser perigosa, pois está até mesmo naquele relacionamento mequetrefe, que se sustenta por alguns relances de felicidade, onde ambos sabem que podem muito mais.

Acima de tudo, a alegria está em nós, porque existir é um ato contínuo de vontade de ser feliz – não a qualquer custo, mas sim, apesar e contudo.

É evidente que esta ode não cumprirá seu propósito só com alguns caracteres. A concretização está na recordação do seu potencial de felicidade, que te faz querer encarar as dores, para expurgar a tristeza e inundar-se em novas formas de êxtase. Um brinde aos resquícios de esperanças deixados pelas alegrias do passado, que nos movem para as do futuro!


*@aninhacrara tem 24 anos, nasceu no interior de Goiás e teve o privilégio de ir se (des) encontrando pelos caminhos que a vida traçou. É advogada recém-formada e, como toda jovem idealista, acredita que devemos tentar impactar positivamente o mundo, buscando sempre a harmonia e conexão com a vida, a natureza e as pessoas. Nessas tentativas (muitas vezes frustradas) de equilibrar os ideais com a realidade material, a escrita tem lhe servido como uma forma de expressão e conexão com sua vida.

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