Reconhecimento

Marina Rodrigo Octavio Hermeto escreve sobre reconhecimento
Foto: Arquivo pessoal

*Marina Rodrigo Octavio Hermeto

Perdi um grande amigo. Perda esperada. Sofria há muito. Mas é sempre triste. Sobretudo nesse tempo de pandemia em que vivemos. Não podemos abraçar os amigos. Não devemos sequer nos aproximar.

Resolvemos ir ao velório, meu marido e eu, seguindo todos os protocolos. Máscara, protetor facial, manter distância recomendada. Assim fizemos. Ainda bem que fizemos. Foi bom vermos quem tanto queríamos ver, apesar dos pesares.

Na saída, caminhando pela aleia do cemitério, vemos um casal de aparência jovem, ambos usando máscaras também, provavelmente chegando para algum velório.

Percebi que nos olhavam mas não pude reconhecê-los. Quando nos cruzamos, escuto:

— Marina, é você?

O som da voz me permitiu identificar uma amiga de minha filha mais velha, que eu não via há anos! Como me fez bem ser reconhecida, por trás de tantos disfarces! Foi uma troca de afeto importante, que reforça, para mim, o valor das amizades, a alegria de um bom encontro.


*Nasci no Rio de Janeiro, em 1949. Sou psicóloga e psicanalista, mãe de 4 mulheres, avó de um casal de netos já adultos. Gosto de lidar com crianças e com idosos, de bordar, de ler, de ouvir e contar histórias.

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