A arte de grisalhar

Patrícia Fernandes escreve sobre como se deixou grisalhar e ter cabelos brancos
Foto: Arquivo pessoal

*Patrícia Fernandes

No começo, a decisão de deixar-se grisalhar veio junto com um misto de sentimentos. Uma dualidade entre coragem e inconsequência. Entre aceitação e desobediência. Uma certeza desequilibrada entre oposição e comunhão. Durante o contínuo e lento “desbotar”, eu sinto, em tempos de paz, uma sensação de belo desabrochar. Em tempos de guerra e ansiedade, um indigesto esperar e a obrigação do tempo todo ter que me justificar sobre esta escolha.

Parece que finalmente estou me despindo da última fantasia social a qual eu me mantinha firmemente atrelada, amarrada. Estou deixando de me submeter aos padrões sociais a às ideias preestabelecidas de que mulheres devem permanecer sempre jovens. Que assumir cabelos brancos é sinal de desleixo. Muito diferente disso, é um sentimento tão profundo de amor próprio que me permite tirar fotos sem maquiagem e sem filtro. Que me permite assumir rugas e marcas de expressão com total orgulho e completo desapego.

Enquanto os cabelos brancos vão crescendo sinto que estou renascendo dentro da verdade de quem eu realmente sou.

Estou assumindo internamente que não sou melhor do que ninguém, mas também não sou pior. Eu só sou quem eu sou. Sou o melhor que eu pude ser dentro daquilo que eu quis e pude ser até agora. Sou uma mulher de 42 anos que já viveu o bastante a ponto de ter cabelos brancos, e ao mesmo tempo, tem uma vida inteira pela frente.

Não pintar os cabelos vai muito além de economizar dinheiro, trabalho e preocupação. É ter a honra e o privilégio de ter vivido o bastante para entender que tudo é uma questão de escolha, que nada nem ninguém é responsável por ela além de você mesma. É sobre ter a liberdade de escolher e se mudar de ideia, escolher diferente. É sobre ser e existir dentro da minha verdade e da minha idade. É sobre honrar o meu corpo, a minha aparência e a minha vida.


*Meu nome é @patriciafernandes_escritora, moro em Curitiba/Paraná. Tenho 42 anos, sou arquiteta, matemática, borderline, esposa, filha e mais um par de coisas, mas o que faz a minha vida ter sentido é ser escritora. Tenho dois livros publicados e para mim ser escritora é a prova de que o ser humano é capaz de voar. Ler é inspirar, escrever é expirar, enquanto eu viver, este é o meu respirar…

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