Entre o Samuel e o Manuel

Watson Braga e o cãotador de histórias
Foto: Arquivo pessoal

*Watson Braga

Diante da palidez com a qual despertei hoje, meus tutores se reuniram em conselho e acataram o das evidências. Urgia que deixássemos o apertamento do apartamento.

Não me iludo. Faz um tempinho que nosso mundo já não gira mais em torno de meu umbigo. Nem precisa perder tempo, tenho-o, sim! E, por questão de convivência, como nos humanos, ele é o centro exato de mim. A decisão foi tomada, portanto, em prol de toda a família, principalmente se pensando no novo integrante, o Samuel.

Se eu tivesse pouco mais de um mês de estreia como ele e conhecesse mais consultórios médicos que mato, também poria a boca no trombone. Pelo menos, protocolaria uma reclamação, por escrito, na ACBMM – a Associação dos Carequinhas, Banguelos, Menores de Metro.

Já adianto que não infringimos nenhuma restrição sanitária vigente, pois não vimos gente quase nenhuma. Apenas os dois porteiros do condomínio fechado aonde fomos caminhar. A propósito, belíssimo lugar! A alguns minutos de Belo Horizonte e encravado na natureza crua, seria um bom destino para onde eu fugiria, se eu tivesse um temperamento mais rebelde.

Coincidentemente, uma prima e um primo do Marcelo vivem lá, motivo pelo qual nos franquearam a entrada. O condomínio tem o idílico nome de Pasárgada, convenientemente copiado do poema do fabuloso Manuel, o Bandeira! E, como não poderia deixar de ser, tão logo lá pisei, senti-me dentro do poema.

Esperei que os tutores me chamassem Erasmo, já que, em Pasárgada, eu deveria ser amigo do Rei… O que não aconteceu, já lhe adianto e, mais, garanto que essa é a piada mais infame que tenho em todo o meu repertório. De modo que pode seguir lendo o bom e jovem Watson até o juízo final, sem medo de vergonha alheia igual!

Samuel esteve radiante durante todo o passeio! Parece ter me puxado. Foi bastante divertido para todos nós, enfim. O casal conseguiu andar de mãos dadas depois de um bom tempo e, o melhor, deixar a mente vagar sem amarras. A única coisa ruim de uma boa vivência, no colo de um ansioso, é que os dias são contados, como num rosário extenso, para que a experiência surja de novo.


*Watson (@watsonmbraga) – o cãotador de histórias.

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