Eu, Adotiva
*Fernanda Tuna
Falar sobre adoção no lugar de filha adotiva é um dos maiores desafios que me propus. Além de enfrentar o preconceito histórico, também lido com as minhas limitações. A Fernanda que criou o perfil @euadotiva e desenvolve o seu conteúdo está dez casas à frente da Fernanda que eu sou. Reflito muito sobre as reflexões que eu mesma proponho. Sou a minha própria fonte de estudo. Junto com o perfil está acontecendo em mim uma grande transformação e tomada de consciência. E, sinceramente, eu não esperava por isso.
Fui atormentada por essa ideia durante meses. Após conhecer a minha família biológica em 2020, depois de 38 anos, minha percepção sobre a minha condição de filha adotiva se tornou mais abrangente e senti uma necessidade muito grande de estudar o tema. Tinha muitas dúvidas e todas sem resposta: Como reagem os filhos adotivos quando reencontram as suas famílias biológicas? É normal ter medo de ser rejeitada novamente? Qual a melhor forma de lidar com os pais adotivos? A adoção é um trauma?
Mesmo encontrando a minha família de origem, me senti ainda mais sozinha na minha vivência adotiva.
Encontrei pouquíssimos filhos adotivos brasileiros nas redes e a vontade cresceu ainda mais. Eu dormi e acordei com essa ideia ocupando a minha cabeça durante vários dias. Ficava esperando passar. Mas não passou. Estava grávida do desejo de entender e questionar o lugar social dos filhos adotivos no Brasil e, inevitavelmente, o desejo nasceu: bem mais forte e decidido do que toda a minha insegurança.
Por causa do perfil, hoje estou em contato com outros filhos adotivos adultos e com pais adotivos. Algumas respostas começam a tomar forma. Outros desejos, agora coletivos, nos invadem. Provavelmente, eles nascerão em forma de direitos e luta contra a invisibilidade social dos filhos adotivos no Brasil e no mundo. Acho que às vezes somos canais de materialização de vontades coletivas que nem sabemos que existem. Sigamos, corajosos e vulneráveis, deixando nascer as ideias.
*Fernanda Tuna, mãe, filha por adoção, ativista social, ambientalista e empreendedora. Idealizadora e fundadora da página @euadotiva no Instagram. Cofundadora do site www.escrevemulher.com