Felizmente, eu ouvi um não

*Carla Caroline

Agosto é um mês especial para nós (Neto e eu). Em 2016, Nina, nossa filha, nasceu e transformou tudo. Nos fez reorganizar finanças, planos e, principalmente, repensar a vida. Foi em agosto daquele ano, que comecei a entender o quão cruéis são as faces do machismo com as mães. Ao mesmo tempo que me sentia potente por ter parido, me via frágil pelo mesmo motivo.

Sempre que pensava que nada iria me parar e que seria cada vez mais forte – afinal, tinha uma vida que dependia de mim – o mundo dizia que o mercado de trabalho, o samba, determinadas roupas ou um café com amigos (sem filha ou companheiro) não estavam no roteiro de uma jovem mãe.

No entanto, o fato que mais me marcou nesse período foi o retorno da licença-maternidade. Jamais vou me esquecer da alegria em que cheguei ao escritório de uma empresa de comunicação voltada para a tecnologia, carregando minha filha no Sling e pronta para voltar.

Porém, carrego na memória o rosto dos homens que me receberam e suas falas permeadas de risos sarcásticos. Foi doloroso ouvir que para trabalhar em home office, meu salário seria drasticamente reduzido, pois eu “tinha uma bebê”, que “eles entendiam as dificuldades de cuidar de uma bebê em casa” e que a “empresa estava em crescimento”.

Sai de lá sem rumo e com a certeza de que NUNCA MAIS pisaria naquele lugar (realmente, não voltei). Em casa, chorei. Berrei. Disse que iria vender bolos no metrô, mas que não trabalharia com aqueles homens. Sentir o desrespeito doeu profundamente.

Meses depois, duas mulheres que me acolheram, mesmo sem saber: Miriam @miriamtemperani e Maria Fernanda @mafehmollo. Quando me vi perdida, ambas me deram a oportunidade de recomeçar com acolhimento, mostrando que juntas somos MUITO MAIS PODEROSAS.

Cinco anos se passaram, olho e agradeço por aquele dia. Foram meses trabalhando da minha casa; os aprendizados foram imensos; pude ver Nina dar os primeiros passos, iniciar a introdução alimentar e escolhi com carinho a primeira escolinha. Me desenvolvi como mãe, profissional, mulher, amiga e, felizmente, não tive a felicidade de reencontrar aqueles dois homens!


*@carlacaroline25 é jornalista e colaboradora fixa do Vida de Adulto. Veja Quem é Carla Caroline.

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