Permaneço em desconstrução

*Carla Caroline

Todos os dias, ao acordar, percebo que na cama ficou um pouco mais de mim. Além do descanso, o sono contribui para um processo de desenvolvimento físico e mental. Desperto pensando em como ser e estar melhor.

“Meu silêncio e minha obediência só servem para quem quer me ver apagada e morta”. A frase da Tatyane Ramos (@tatyolir) em entrevista ao Meteora Podcast (@meteorapodcast) reverbera forte (há semanas) em um ser que ainda está em construção e desconstrução.

Ela não falava, especificamente, sobre corpo. Mas fazia uma análise em relação a carreira e outros desafios que cercam a vida das mulheres, principalmente, das mulheres pretas. No entanto, ao escutar cada trecho da conversa, percebi que além de uma conexão com o mental e o profissional, meu corpo sentia (literalmente) cada trecho daquele papo.

As observações traziam certos tremores. Quem nunca se olhou e se sentiu inadequada no espaço que ocupa? Qual mulher nunca deixou de usar uma roupa que desejava por acreditar que seu corpo fugia dos “padrões” de beleza impostos?

Diante disso, proponho reflexões sobre alguns pontos que envolvem nossos corpos femininos. Nosso “silêncio” e nossa “obediência” fazem com que o Brasil ocupe preocupantes lugares nas estatísticas. Em dez anos, dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica apontam que aumentou em 141% o número de procedimentos estéticos entre jovens de 13 a 18 anos.

Também há a violência física. O Brasil ocupa a quinta posição no ranking de feminicídios – homicídios contra mulheres – no mundo. Os dados são do Mapa da Violência de 2015. Mesmo diante das informações imprecisas dos órgãos públicos, levantamentos mostram que cerca de 75% das mulheres assassinadas no primeiro semestre de 2020 no Brasil eram negras.

Acima alguns apontamentos em relação ao que “abaixar” a cabeça sem questionar pode fazer com os corpos femininos, incluindo as mulheres trans, que são vítimas diárias das mais diversas formas de violências.

Diante disso, agradecemos por não estarmos mortas. Porém, o quão apagadas estamos diante de nosso silêncio e da nossa constante obediência? O quanto precisamos nos desconstruir para iniciar um novo processo de construção?


*@carlacaroline25 é jornalista e colaboradora fixa do Vida de Adulto. Veja Quem é Carla Caroline.

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