Minha filha gagueja

  • Raquel Cesário escreve sobre sua filha, que gagueja
  • A Cidade do amor em dobro

*Raquel Cesário

Não é de hoje, não é segredo, não é vergonha.
Cecília é uma criança que gagueja.
Tem épocas que gagueja muito. Tem épocas que quase não gagueja.

Gagueira não é psicológico.
Gagueira não é ansiedade.
Gagueira é um distúrbio de fala neurobiológico. E genético.
Não tem graça. Não tem “cura”. Tem tratamento.

Minha filha gagueja. Demora para falar.

Às vezes não consegue. Mas ela não desiste.
Sabe por quê? Porque ela tem muito para falar. E fala.
Mas eu pergunto: quantos de nós sabemos escutar VERDADEIRAMENTE o outro? Ainda mais uma criança?
Somos uma sociedade de falantes, não de ouvintes.

Minha filha gagueja, e isso está longe de ser um problema.
O problema é esbarrar em gente que acha graça. Ou acha triste.

Minha filha gagueja.
Mas minha filha tem tanto a contar.
Minha filha gagueja.
E canta.
Dança.
Brinca.
Desenha.
Pinta.
Ri.
Chora.
Imagina.
Conversa.

O que minha filha tem a dizer é importante e merece ser escutado, independente da forma como ela fala.

Minha filha gagueja.
A gagueira faz parte dela, mas está longe de defini-la.

Tire o preconceito do caminho e substitua por uma escuta empática e respeitosa porque Cecília vai passar. Com gagueira, com amor próprio e feliz.

Minha filha gagueja e é extremamente FELIZ.
E isso basta.


*Me chamo @raquel_cesarioo. Sou pedagoga, psicopedagoga, psicanalista, educadora parental e digital e também sou autora do primeiro livro infantil brasileiro sobre gagueira. Sou mãe da Cecília, uma criança que gagueja e que me transformou enormemente.

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