Mulher ama cerveja
Viajei de Brasília a São Paulo para uma viagem de trabalho e, aproveitando as poucas horas de folga à noite, marquei um encontro com os amigos em um bar de cervejas especiais recém-aberto na cidade. Foi indicado por uma amiga.
Quando cheguei, fiquei encantada porque descobri um mundo de cervejas caras, mas com sabores deliciosos, aromas e estilos muito variados. Desde então, fui fisgada pelas cervejas especiais e a busca por novidades virou rotina em qualquer cidade visitada.
No início, eu anotava cada novo rótulo degustado como um troféu pessoal, mas os amigos começaram a pedir dicas e, para facilitar a troca de informações, criei a página @mulher_ama_cerveja com o objetivo de postar fotos e comentários sobre a bebida.
Quando falava da página para conhecidos ou estranhos, alguns olhavam com espanto e perguntavam: “Mas você bebe até cerveja escura?”. “Nossa! Você já bebeu tudo isso?? (risadinha ao final). Depois me olhavam meio de lado, parecendo que estavam me avaliando, e eu me perguntava:
“Será que pensam que tenho problemas com álcool?” Confesso que, dependendo da pessoa, nem comentava sobre a página e meu “estranho” hábito.
Um dia sugeriram que eu incluísse a página e os cursos que já tinha feito sobre o assunto no meu currículo profissional e, surpreendentemente, foi uma ótima ideia. Pelo menos uma vez, esse conhecimento foi um diferencial em um processo seletivo e percebo que é um ponto de interesse para começar uma conversa em qualquer ambiente.
Com o tempo, constatei que esse tipo de espanto diminuiu e as perguntas tomaram o tom de curiosidade. “Como assim? Nem toda cerveja escura é forte? Há cervejas com frutas?”
O que aprendi com essa experiência é que o exótico pode ser usado como algo positivo, justamente por mostrar que sou diferente da maioria, não sou apenas o que esperam de uma mulher da minha idade e com meu nível cultural e econômico.
Se gosto de arroz com feijão e bife acebolado, posso pedir isso em qualquer restaurante. Se gosto do meu sotaque, não preciso mudar só para parar de ouvir piadinhas.
É libertador ouvir: “Nossa! Que diferente!”
*@julianagribeiro.jornalista é jornalista e uma das fundadoras do Vida de Adulto.