A saga do CPF
Não sei você, amiga leitora, mas a vida com os aplicativos de relacionamento anda difícil por aqui. Eu já havia experimentado e desisti. Tentei novamente, mas saí outra vez. Sei que é uma forma de conhecer gente interessante – tenho, inclusive, amigas que fizeram grandes amigos ou até encontraram seus maridos lá -, mas, infelizmente, ainda não dei essa sorte.
Nem vou entrar no mérito dos caras que agem como atores de filme pornô, enviando nudes não solicitados e querendo que a gente faça o mesmo, sem mal nos conhecer, porque esses eu já bloqueio logo.
Vou falar de alguns com quem a conversa evoluiu. No meu entendimento, era pra ser um papo leve, mas acabou virando “A saga do CPF”. Não me refiro aqueles 11 dígitos que usamos pra quase tudo. Falo do “Cadastro de Possível Ficante”. São tantas perguntas e tão invasivas, que acho que estou num episódio de CSI ou Criminal Minds, onde tudo o que eu disser pode ser usado contra mim.
Um deles quis saber se o apartamento onde eu vivia era meu ou alugado. Curiosa pra entender a razão da pergunta, ouvi como resposta: “É que já falo logo na primeira ficada que dou prioridade a quem tem casa própria, pra durante o relacionamento você não tentar se mudar pra minha. Comigo é cada um na sua.”
Além da paranoia, fiquei perplexa com a pretensão da criatura. Ele não apenas tinha certeza que ficaria comigo, como eu ia me apaixonar loucamente e querer morar com ele. Que autoestima trabalhada no mármore é essa, minha gente? Quase perguntei se ele não me dava uma mentoria de força, foco e fé.
Mas teve pior. Outro pediu uma foto minha de corpo inteiro, pra “conhecer meu guarda-roupa”. De novo curiosa, porque esse fetiche eu ainda não tinha visto, recebi como justificativa: “É que gosto de ir a restaurante caro, no primeiro encontro. Pra isso preciso saber se você tem classe, porque não gasto dinheiro com mulher vulgar”.
Chocada, disse que quem estava sendo deselegante era ele. Resposta: “Então não vai ganhar o jantar”. Quero não, bem. Brigada. Vê lá se estou em aplicativo pra arrumar Ticket Restaurante. Prefiro ir ao boteco da esquina mesmo. Lá a cerveja é gelada e sou sempre bem tratada, independente da minha declaração de Imposto de Renda ou do meu closet. Sou pobre mas sou limpinha.