Maquiagem pra quê?

Foto: Sérgio Lima

Tenho horror a maquiagem. Tenho preguiça de passar, mais ainda de tirar. Acho que usei toda a minha cota de sombras, blushes e batons quando era criança e andava de roupa da Xuxa e pintada até os dentes.

Hoje levo bronca, principalmente da minha mãe, que olha pra mim e automaticamente, em tom ameaçador, saca um batom da bolsa como se fosse uma arma: “Passa pelo menos um batonzinho, passa”. Me irrito profundamente, mas ela nem liga. Melhor irritada com batom que sem.

De vez em quando, a minha amiga e companheira de trabalho, Christina, com toda a sua sinceridade, dispara: “Menina, vai passar uma maquiagem porque você está muito pálida. Está amarela”.

Esses dias, em um plantão de domingo, no ápice do meu cansaço, passei um batom mais forte (que nunca uso) e fui gravar. Pensei: minha boca vai chamar tanta atenção que ninguém vai reparar na falta de cores nos olhos, nas bochechas. Errei feio. Recebi quatro mensagens de telespectadores reclamando da minha não-produção. Acho que se sentiram ofendidos.

O colega Júlio Mosquéra uma vez me disse que achava bonito ver uma mulher se maquiar. Era um ritual. E é mesmo. Diariamente cumpro essa saga, mas sem qualquer glamour. Paro onde estiver e começo uma maquiagem aos trancos e barrancos. Ali, é decretada uma transição: deixo de ser a Renata normal, que (teoricamente) dá conta da casa, dos cachorros, da família, do namorado, dos amigos e, a cada pincelada, meu personagem vai se montando.

Ao final, nasce a jornalista que vai entrar no ar com cara de quem acordou daquele jeito, vestiu uma das suas milhares de roupas de um closet imenso separado por cores, tomou um café de hotel cinco estrelas e estreou para a vida.

Quando mais um dia acaba e chego em casa, a primeira coisa que faço é mandar o personagem ir embora. Tiro aquela maquiagem, guardo minha roupa no pequeno armário que está com a porta emperrada, visto uma camiseta do Roriz e divido o sofá apertado com os dois cachorros. Sem maquiagem e sem máscaras, nem de cílios, nem de personagem, vivo meu mundinho.

Sorte mesmo é da Morena Marina, do Caymmi, que pode ser ela mesma porque já é bonita com que Deus lhe deu.

Tags: maquiagem personagem escrever

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