Mais que amor
E veja só a minha ingenuidade: eu pensava que o amor era capaz de tudo. Acreditava que duas pessoas que se amam sempre ficavam juntas. Mas nossa história me mostrou que não. O amor não é o antídoto que nos transforma nos super-heróis das histórias em quadrinhos. Ele é apenas um sentimento, que sozinho não faz mágica.
Sim, é possível amar e não conseguir estar junto. Para viver uma relação, é preciso mais que amor. É preciso uma coragem, uma determinação, uma força que muitas vezes não temos. É preciso vencer o orgulho de se expor. O medo da rejeição. O apego ao passado. A vulnerabilidade que nos transforma em seres tão à flor da pele, que qualquer beijo de novela nos faz chorar.
Quando eu ia, você ficava paralisado pelo medo. E quando você vinha, era que eu ficava imobilizada pela mágoa. Nesse descompasso, fomos nos perdendo, ainda que o amor estivesse lá. E ele está. Em cada sorriso que abro ao saber de uma conquista sua. A cada vez que você se preocupa comigo pelas mínimas coisas. Sempre que nossos beijos e abraços se encontram.
Ontem revi “As pontes de Madison”. Assisti a Meryl Streep e Clint Eastwood se amarem profundamente, mas sem terminar juntos, porque a certeza da vida já construída pode ser mais confortável que a dúvida de uma história ainda não escrita. Na arte que imita a vida, para viver uma relação amorosa também é preciso mais que amor.
Com você, enxerguei o que minha idealização não me permitia ver: somos todos seres frágeis, hesitantes e cheios de cicatrizes, em busca de afeto. Apesar de sedentos por amor, nem sempre somos capazes de alcançar o que mais desejamos. E está tudo bem, porque essa é uma das lições preciosas do amor: a aceitação pacífica e empática de nossa precariedade e do outro.
Somos sem estar. Não é sua culpa nem minha. É da natureza humana e da fragilidade amorosa, como bem definiu Cecília Meireles: “Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente onda. Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida em ti. Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil, fiquei sem poder chorar, quando caí.”
Gostei muito dos seus textos. Tenho vivido muitas coisas relatadas neles. Parabéns!