O shopping dos suicidas
Eu trabalhava em um dos prédios da Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Um dia, tive problemas com o computador e chamaram o “rapaz da TI”. Era bem novinho, educado e prestativo. Resolveu o problema e voltou outras vezes. Um dia, nos encontramos na entrada do ministério. Tímido, ele me cumprimentou e seguiu em direção ao ponto de ônibus. Alguns dias depois, meus colegas me contaram, chocados, que ele havia se suicidado no dia anterior.
Antes de ir para o trabalho, o rapaz parou para almoçar em um shopping na região central de Brasília, terminou de comer o sanduíche, levantou-se e, antes que alguém pudesse impedir, se jogou do terceiro andar caindo em pleno hall de entrada do shopping, no horário com maior fluxo de pessoas. Estava com depressão, descobriríamos mais tarde.
Foi quando eu soube que ele se matou no lugar conhecido pejorativamente como o shopping dos suicidas. Nos anos anteriores, várias pessoas tinham se matado da mesma maneira, no mesmo lugar.
A cada morte, mais tentativas surgiam. Algumas apareciam na imprensa, outras não.
Como os suicídios no local estavam aumentando, o Ministério Público entrou no caso e obrigou o shopping a tomar medidas que incluíam a instalação de vidros nos andares superiores internos. Acho que isso dificultou os suicídios, mas não sei se terminaram.
Por que lembrei dessa história? Esta semana, o G1 divulgou que “Voluntários se revezam na Ponte Newton Navarro, em Natal, para evitar suicídios“. Bastou uma busca na internet para ver que o problema na ponte é antigo e muito grave. Além dos voluntários atuais, várias outras pessoas já fizeram prevenção de suicídios no local. Até agora, tudo infrutífero. Se procuro mais na internet, outros “pontos” surgem e a cada linha lida, sinto um calafrio.
Por que tantas pessoas batalham pela vida enquanto outras lutam para perdê-la? Tenho um caso de suicídio na família e sei o quanto essa é uma ferida que não se fecha. O suicídio precisa deixar de ser um tabu e deve ser tratado como problema de saúde pública. O que estamos fazendo ou deixando de fazer para ajudar essas pessoas?