Quantas vidas já vivi?
Pediram para resumir minha vida profissional. O que era para ser uma conversa breve, durou mais de meia hora. No final, parei para pensar como cada experiência profissional representa uma fase distinta da minha vida. Algumas nem parecerem ter sido vividas pela mesma pessoa. Me perguntei: Afinal, quantas vidas já vivi?
Às vezes, lembro de uma história sem conseguir recordar quem me contou. Fico me perguntando se foi um conhecido ou amigo da adolescência, da faculdade, do período que trabalhei na Universidade Federal de Goiás ou se foi ano passado, em São Paulo.
Ainda há pessoas que conheci em viagens e que, na maioria, nunca mais tive notícias. Como será que estão? Realizaram o sonho de ser mãe, viajar o mundo, aprender a cozinhar, viver na praia? Mesmo que a internet hoje ajude a reencontrar pessoas, algumas respostas não são públicas.
Já mudei tantas vezes de emprego, casa, cidade, estado e corte de cabelo que me acostumei a pensar que é esse é meu jeito ariano de ser. Esses dias, porém, percebi que a mudança “vem de família”. Na infância e adolescência, nos mudamos várias vezes, sempre vivendo em duas cidades.
Estudei em Goiânia até os 10 anos, em Anápolis dos 11 aos 17 e depois, já por escolha própria, escolhi a capital goiana para fazer a faculdade de jornalismo. Já dona de meu destino, alguns anos depois me mudei para São Paulo, depois Brasília e, de novo, a capital paulista.
Com esse ir e vir, acabei perdendo contato com muitas pessoas queridas. A cada nova cidade, novo emprego, novo curso, nova viagem, mais pessoas entraram para a minha vida e minhas memórias e algumas continuam comigo.
Vivi rotinas que pareciam eternas e me angustiavam porque eu não conseguia mudar, mas hoje vejo que tudo tem seu tempo. A mudança nem sempre chegou na hora desejada, mas nunca deixou de me visitar. Algumas vezes bateu à porta, em outras, derrubou a casa, mas depois eu vi que havia um caminho logo ali. Eu fui ver até onde ele levava e ainda não cheguei ao fim.