O avesso do avesso do avesso
Você já tomou uma decisão radical que mudou sua vida? Se fosse hoje faria igual ou diferente? No meu caso, a mudança para São Paulo foi uma das coisas mais inconsequentes que já fiz. Na semana que a cidade completa 466 anos, levei um susto quando fiz as contas e percebi que já faz 20 anos que larguei minha cidade para começar quase do zero uma vida na capital paulista. Parafraseando Caetano Veloso na música Sampa, foi “o avesso do avesso do avesso”.
Se fosse hoje, não teria coragem de largar uma vida estável porque parece que tudo é mais difícil quando ficamos mais velhos. É fato que o mercado de trabalho e os relacionamentos fecham portas para os mais experientes, mas não é só isso. Envelhecer faz a gente ter a impressão de sempre estar vendo as mesmas coisas e isso nos deixa desanimados em alguns momentos.
É um paradoxo porque justamente quando estamos mais preparados para enfrentar os problemas, alguns até repetidos, nem tentamos colocar em prática alguns planos porque pensamos mais antes de agir. Sim, a maturidade traz essa característica. Podemos desistir antes de começar simplesmente porque não queremos “passar por isso tudo de novo”.
O aniversário de São Paulo me fez pensar em toda minha trajetória na cidade porque quando a encarei frente a frente, nem tudo foram flores. Fiquei desempregada por um longo período e alguns conhecidos não entendiam minha opção. Perguntavam: “Não tem emprego na sua cidade?”
Eu, pacientemente, explicava que não saí de Goiânia por desespero, mas por opção de vida. Contava que larguei dois empregos (um deles de funcionária pública concursada) porque queria uma nova vida em Sampa. Acho que nem todos entendiam e me olhavam desconfiados.
Vinte anos depois, não me arrependo da decisão maluca que moldou todo o meu destino posterior. Apesar da maturidade ter me deixado mais cautelosa, ainda me sinto disposta a decisões que parecem inconsequentes. Talvez não tão radicais, mas se é para me tirar da zona de conforto, por que não?