A vida não começa aos 40: ela fica melhor
Ler as biografias de Michelle Obama e Tina Turner é vestir a alma de esperança. Duas mulheres fortes, inspiradoras, que venceram as limitações impostas pela pobreza, pelo racismo e pelo machismo.
Graças ao seu foco e a anos de estudo e trabalho, Michelle conseguiu sair da sombra do “homem mais poderoso do mundo” e escrever sua própria história, tornando-se um exemplo para outras mulheres pretas que pretendem alçar voos mais altos.
Tina sobreviveu ao abandono dos pais e a um marido que lhe atirava café quente no rosto, quebrou seu maxilar e tentou matar a ela e aos filhos diante do pedido de divórcio, tornando-se uma das maiores estrelas da música mundial.
Há, ainda, um detalhe que me marcou na trajetória dessas duas mulheres. Em ambos os casos, a grande virada na vida ocorreu depois dos 40 anos – aos 45, para ser mais exata. Justamente a idade que tenho hoje.
Aos 20, queremos viver como se não houvesse amanhã.
Aos 30, almejamos pertencer e nos destacar. Aos 40, nos libertamos das cobranças e percebemos que a direção é mais importante que a velocidade.
Depois dos 40, não escondemos mais o choro, porque já aprendemos que a vulnerabilidade não é um problema, e sim uma condição que nos conecta e cura, e as risadas surgem mais fáceis, pois temos consciência de que tudo passa e somos capazes de sobreviver.
O amor, depois dos 40, muda também. Buscamos uma parceria baseada não apenas em química ou padrões sociais, mas em respeito e amizade. E se não for assim, tudo bem, porque nossa dignidade e paz de espírito são inegociáveis.
Em “Better be good to me”, Tina diz: “É melhor você ser bom para mim/ É assim que isto tem que ser agora/ Pois eu não tenho aproveitado/ Aquilo que você chama imprecisamente ‘a verdade’”. Não aceitar nada menos do que merecemos é um lema que levamos a sério.
É possível dar uma grande guinada em qualquer idade, mas acredito que algo mágico acontece dentro de uma mulher depois de quatro décadas de existência. Ela descobre quem é e passa a ter orgulho disso. A vida não começa aos 40: ela fica melhor.
*@fabriciahamu é uma das fundadoras do Vida de Adulto. Escreve às segundas-feiras, duas vezes por mês.