“Você vai fazer hidratação hoje?”
Minha filha está prestes a completar cinco anos e a cada dia percebo o quanto ela tem evoluído e, em alguns momentos e ações, está muito parecida com a criança que fui e com a mulher que busco ser.
Dentro de suas particularidades, vejo na Nina o quanto o gesto “arrasta” mais do que as palavras. Desde que nasceu, ela vai ao banheiro conversar comigo, seja na hora do banho ou das necessidades fisiológicas. Como muitas mães sabem, quando se tem filhos conseguir tempo para um simples xixi sozinha é uma missão quase impossível. Aqui não é diferente.
No entanto, o fato tem muita relação com a minha infância. Como já contei aqui, minha mãe criou a mim e aos meus irmãos sem a colaboração do meu pai. E, quando ela entrava para tomar banho, quase todos os dias, nós três (cada um num momento ou juntos) entrávamos para conversar, contar sobre o dia, pedir algo, levar broncas ou brigar (ninguém é perfeito, né?).
Era e é um momento importante. Até hoje, quando estou na casa da minha mãe, instintivamente, me pego lá no banheiro, enquanto ela se banha, conversando. Poderia sem em outro momento? Talvez sim, mas…
Hoje, sou a mãe da relação e vejo meu momento de “intimidade” ser invadido.
Pode ser para escovar os dentes juntas, passar batom, para um questionamento ou, simplesmente, para passar um creme hidratante pelo corpo, algo que sempre fiz e Nina percebeu agora.
Então, todos os dias, por volta das 21h, ouço a porta se abrir enquanto estou no chuveiro. Quando o banho não é em conjunto, ela senta-se na tampa do vaso sanitário ou em sua cadeirinha e começa a falar, falar, dançar e falar. Segundos depois, ouço: “Você vai fazer hidratação hoje?”.
E, minutos depois, lá estamos nós, mãe e filha, enchendo o corpo de óleo, cremes e falando sobre como o corpo da mulher é diferente do da criança, como é importante se amar e ali, de maneira lúdica, explicito todas as neuroses de uma pessoa preocupada com todas as possibilidades de abusos que minha menina poderá presenciar.
“Você vai fazer hidratação hoje?”. Parece uma frase “boba”. Porém, carrega significados importantes como: amor, conexão, ancestralidade e aprendizados.
*@carlacaroline25 é colaboradora fixa do Vida de Adulto. Escreve aos domingos, duas vezes por mês.