Mulher (Não) Maravilha
“Se acolha”. Essa foi a mensagem que uma grande amiga me mandou quando contei a ela que minha roupa de Mulher Maravilha tinha se rasgado, sem mais nem menos e me deixado completamente vulnerável.
Como eu, a Mulher Maravilha, havia me deixado desnudar? Logo eu, tão metódica, tão perfeccionista, tão rígida comigo, perdi o prumo, o chão, o ar. Estava/estou cansada demais? Sobrecarregada? Preocupada? Tudo isso em excesso…
Com a minha fantasia em frangalhos, voltei pra casa tentando interiorizar aquele mantra da minha amiga: “Se acolha”.
Deitei, em posição fetal e pude, por alguns segundos entender meu tamanho. Tão pequena, tão frágil.
Consegui enumerar mentalmente onde eu, a Mulher Maravilha, estava pecando e tristemente percebi que em todas as frentes: eu não agrado a ninguém plenamente.
Não dou a atenção ao meu namorado que ele gostaria. Não passeio com os meus cachorros o tanto que eles mereciam e gostariam. Não supro a carência da minha mãe. Não estou perto do meu pai. Não vejo a minha avó. Não encontro os meus irmãos. Não sou presente e atenciosa com os meus amigos. Não toco os meus projetos. Não sinto mais a empolgação de iniciante no meu trabalho. Não tenho mais as certezas que eu tinha. Não defendo mais minhas, até então, inegociáveis reflexões. Não, não e não.
Significa que nunca estou inteira pra nada, nem pra ninguém. Vou passando e distribuindo as minhas migalhas. Nada além disso, porque é só o que eu posso oferecer, meus pedaços. E assim, despedaçada, chego no final do dia, ainda de fantasia de Mulher Maravilha, aquela que cobre todos os ferimentos, disfarça as dilacerações, não marca as dores da alma.
Hoje entrou em cena a velha camiseta do Roriz (que já citei ela em outro texto) e dois travesseiros. Me acolho. Acolho minhas fragilidades, meus erros, minhas dores. Acolho minhas lágrimas, meu andar só nessa jornada, meu medo de fracassar.
Se fantasiar de Mulher Maravilha cansa (e ainda contribuiu para uma imagem irreal). Agora, meus amigos, esqueçam a minha Mulher Maravilha. Se acostumem com minha nova versão: Mulher de Carne, Osso, Lágrimas e Gastrite.
*@revarandas é jornalista e uma das organizadoras do Podcast Vida de Adulto.