Meu cabelo não é de plástico…

Foto: Arquivo pessoal

*Carla Caroline

Para a criança negra, o cabelo é sempre um “problema”. No entanto, os meninos (e seus cuidadores) resolvem a questão de maneira prática: raspam. Já para a menina, a situação gera inúmeros conflitos internos e externos. Comigo não foi diferente!

Desde pequena, minha mãe, avó e tias me ensinaram como estar com os fios “arrumados” (leia-se: trançado ou alisado).

Era sinônimo de limpeza. Então, quase todos os dias os fios eram lavados, desembaraçados, ganhavam tranças dos mais variados tipos e dormiam sob um lenço ou uma meia.

No entanto, mesmo diante de todo o zelo, a TV mostrava que o legal era ser loira, com os fios lisos e compridos. Assim, para sanear parte dos meus anseios, minha mãe finalizava o penteado com kanekalon (cabelo sintético conhecido no mundo das tranças). Mas, a alegria só reinava enquanto me olhava no espelho. Ao sair de casa, na verdade, meu penteado era motivo de chacota e desespero.

Na escola, as pessoas tiravam sarro e falavam que meu cabelo era de plástico.

Havia pessoas, inclusive da família, que zoavam (às mulheres que investiam em tal arrumação) dizendo que nosso cabelo iria pegar fogo e por aí vai. Não era legal. Era traumatizante.

Nos anos 1990, tranças e Kanekalon não eram cool como atualmente. Nossas referências não tinham as madeixas como as nossas. Eram raras as mulheres negras na TV ou nas revistas e jornais. Quando apareciam, elas estavam com os fios cheios de química e balançando ao vento. Não tinha nada de plástico!

Com os anos, tudo mudou. Inclusive os métodos para cuidar dos crespos. Depois de passar pelo “pente quente” ou “pente de ferro”, sentir os benefícios do Hene Pelúcia, se jogar nos apliques e em mais uma lista de coisas, estou aqui… plena e usando a liberdade de ter o cabelo que eu quiser, livre de padrões e imposições!


*@carlacaroline25 é colaboradora fixa do Vida de Adulto. Escreve aos domingos, a cada 15 dias.

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