Fome de mim

Foto: Arquivo pessoal

*Renata Varandas
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“Cara Martha Medeiros, li seu livro e gostaria de saber quem te contou minha história. Já que somos tão próximas, quero muito ser sua amiga, a melhor. A gente poderia combinar um café?” Sim, tive muita vontade de mandar essa mensagem para a incrível Martha Medeiros, enquanto lia mais um dos seus livros: o Fora de Mim.
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Martha narra nesta obra o término de um relacionamento saudável e o início de um novo enlace – doentio. Tão Martha, tão eu. A cada linha que lia, a cada dia que vivia, estava ainda mais dentro daquela historia. Assim como Martha, me vi em um curso de imersão, aprendendo a cada dia com aquela relação, que desafiava os meus limites e sempre os ultrapassava.

Hoje olho pra trás e não consigo entender o que aconteceu naquele período. Por que me submeti? Minha dor é perceber que – eu, tão cabeça aberta, independente, feminista, aquariana – não era mais a mesma.

Lembro-me dos mil planos juntos, lindos e promissores que se desfaziam a cada roupa que eu vestia. Separei as “vulgares, coladas, provocantes”, guardei no maleiro e esqueci. Junto com elas, esqueci de mim também.

Enquanto durou aquele casamento, vivi com pouco. Uma migalha qualquer já satisfazia a minha fome de afeto. E assim fui me alimentando: de migalhas e restos. Obviamente, comecei a sofrer de inanição. Ninguém sobrevive tanto tempo com quase nada.
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A fome me fez procurar respostas que nunca tive antes. Aquele relacionamento me “obrigou” a sair da minha zona de desconforto e me alimentar do mundo lá fora. Me impulsionou a beber de novas fontes. Me fez repensar o que já era definido pra mim. Me incitou a ser muito mais forte do que eu julgava ser. Me desafiou a descobrir quem eu sou de verdade. Me trouxe uma Renata que eu não conhecia. E me mostrou que posso ser a minha melhor versão.

Agora apenas agradeço. Obrigada por ter me feito uma pessoa faminta do melhor que tenho. Deixei de estar Fora de Mim para ter Fome de Mim. Obrigada também, Martha.

*Renata Varandas é jornalista de profissão e escritora por paixão. Aquariana típica, é uma eterna inconformada. Ama questionar, conversar, trocar. E também cachorro, chocolate, vinho e amar.

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