É permitido amar?
*Carla Caroline
Demorei para ter coragem de contar ao menino que eu gostava, ainda na infância, o quão especial ele era para mim. Foram raras as vezes em que os sentimentos foram correspondidos. Muitos gostavam de ser meus amigos, mas tinham vergonha de serem vistos com a “negrinha” da turma (já ouvi histórias parecidas vindas de mulheres gordas e de pessoas com deficiência). É triste!
Já na adolescência, a situação era outra. Muitos viam o corpo negro como objeto de desejo. Porém, ainda se recusavam em ser vistos com uma pessoa de pele escura. Assim, era mais fácil ter relacionamentos, em muitas ocasiões, com homens mais velhos. Afinal, os rapazes da minha idade, incluindo os negros, não queriam uma namorada negra. É comum (infelizmente).
A solidão da mulher negra é algo que permeia o nosso dia a dia (gosto de namorar e já estive com certo número de pessoas) . Tentamos explicar isso aos demais e ouvimos: “Ahhh… você é tão linda. Tão incrível. Se joga”. Não é bem assim. Numa roda de mulheres, mesmo sendo maravilhosas, somos as últimas opções.
Então, cansamos, e sofremos os desgostos sentimentais sozinhas. Caladas. E, contamos, quando encontramos, somente para as nossas iguais. Após certo período, comecei a compreender que seria assim e que me amar, antes de tudo, seria o primeiro passo.
Hoje, com um companheiro incrível (sim, ele é branco e já fui chamada de “palmiteira”) percebo o quão bom é ser correspondida. E a correspondência vem em forma de respeito, empatia e vontade de aprender sobre questões que não fazem parte do universo de um homem cis, hétero e branco. Mas, infelizmente, essa é a realidade de poucas. Aliás, o amor (em vários aspectos), ainda está para poucxs!
*Carla Caroline escreve aos domingos, a cada 15 dias. Quer saber mais sobre ela? Leia aqui.
Vc é única..capaz de mover montanhas por aquilo em que acredita, e muito mais pelos seus precipícios e sua ética…